A Índia sofre com milhares de casos da doença que necrosa tecidos do rosto e pode levar à morte
Por Letícia Furlan – iG saúde
Um caso de murcomicose em um paciente com histórico de Covid-19 foi confirmado pelo Hospital das Clínicas, em São Paulo. Tendo como exemplo do que acontece na Índia, a infecção, também conhecida como fungo negro, tem começado a causar espanto por aqui.
Apesar de grave e, em 50% dos casos, letal, a doença não é transmissível, afirma Lucas Bifano, médico clínico-geral que atuou na linha de frente do combate ao Covid-19 ao iG Saúde. Ela ocorre, na maioria dos casos, pela inalação dos esporos liberados pelo fungo e, na minoria dos casos, através de alguma laceração na pele.
A relação dela com a Covid-19 preocupa e ainda é investigada, mas, segundo Bifano, é muito cedo para afirmar que há uma ligação entre as doenças. Isso porque pacientes com a imunidade comprometida e internados em UTI estão mais sujeitos a infecções fúngicas de qualquer que seja o tipo. “Trata-se exatamente do perfil de paciente grave da Covid-19”, explica.
Veja seis dúvidas comuns sobre a murcomicose, ou fungo negro, respondidas pelo médico:
O que é mucormicose?
“Mucormicose é uma infecção não transmissível causada por diversos tipos de fungos da ordem Mucorales. A doença é também chamada de “fungo negro” e possui difícil diagnóstico. Em contato com pele e mucosas, geralmente produz lesões necróticas no nariz e palato (céu da boca). Esses sinais em geral são seguidos de secreção purulenta nasal, febre e sinais inflamatórios na região dos olhos (dor, inchaço e vermelhidão). Também pode evoluir para sintomas do sistema nervoso central e para sintomas pulmonares. No caso de infecção pulmonar, produz tosse com secreção, febre alta e falta de ar. Em pacientes com imunidade comprometida, a infecção pode se disseminar mais facilmente”.
A infecção por fungos ocorre no Brasil?
“Os casos no Brasil são raros. Na verdade, o fungo está presente em praticamente todos os países do mundo, mas dificilmente causa complicações. No entanto, deve-se considerar que, em ambientes de UTI, o paciente está mais sujeito a infecções fúngicas”.
Quem é mais vulnerável a mucormicose?
“Pacientes com imunidade comprometida, diabéticos e pacientes internados em UTI. Costumamos ver casos de mucormicose em pacientes de câncer de pele, ou mesmo de outros tipos de câncer, que passaram por quimioterapia e, com isso, se encontram com o sistema imunológico debilitado. Também estão mais sujeitos ao contágio pacientes que fazem uso de medicamentos imunossupressores como corticoides e pacientes transplantados.”
Como é feito o tratamento?
“O tratamento é feito através de medicamentos antifúngicos controlados e remoção cirúrgica dos tecidos necrosados. É um tratamento complexo e de alto custo.”
Há relação entre mucormicose e a Covid-19?
“Foram registrados alguns casos de infecção por mucormicose em pacientes de Covid-19. No entanto, é muito cedo para afirmar que há uma relação direta entre as doenças, lembrando que, como mencionado acima, pacientes com imunidade comprometida e internados em UTI estão mais sujeitos a infecções fúngicas de qualquer tipo. Trata-se exatamente do perfil de paciente grave da Covid-19.”
Como se dá a transmissão dessa doença?
“A mucormicose não é uma doença transmissível. Ela ocorre a partir da inalação de esporos do fungo, que são transportados pelo ar. Também pode ocorrer, com menos frequência, a partir do contato dos esporos com algum ferimento na pele.”