Em assuntos como preservação e regeneração do meio ambiente, o mercado de crédito de carbono pode auxiliar empresas e países
Por Da Redação Exame *
Há muito tempo se fala sobre aquecimento global e mudanças climáticas — tanto que, já há alguns anos, a ONU discute ativamente o assunto em diferentes conferências internacionais. Foi o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005, por exemplo, que começou a desenhar o que seriam os créditos de carbono, uma representação do CO2 que deixou de ser emitida para a atmosfera. Cada crédito equivale a medida de 1 tonelada de dióxido de carbono.
Atualmente, existem dois tipos de mercado de crédito de carbono: o regulado e o voluntário. Dessa forma, eles abrangem tanto países, com metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, quanto empresas e indivíduos, que escolhem, voluntariamente, diminuir sua pegada de carbono. Na coluna desta semana, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, fala mais sobre a finalidade dos créditos de carbono.
Mercado recente
Os créditos de carbono não têm 20 anos ainda — e são uma alternativa sustentável muito recente que, aos poucos, tem sido aderida por países e empresas. Mas como funciona, na prática?
Créditos de carbono são gerados por países que já cumpriram suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa e, por isso, estão no “lucro”. Ou seja, todo o excedente que esses países deixam de emitir fica como crédito, que pode ser comercializado no mercado regulado. Assim, outros países, que ainda não conseguiram reduzir sua emissão o suficiente, podem comprar créditos e contar para suas metas.
No mercado voluntário, o esquema é parecido. A principal diferença é que, para as empresas, não existe muita regulação envolvida. Não temos tratados da ONU com metas de redução de emissão de gases de efeito estufa (ou GEE) e, por isso, as companhias não têm a obrigação de seguir por um caminho mais sustentável.
Mesmo assim, nos últimos anos temos visto cada vez mais empresas investindo em iniciativas sustentáveis, inclusive créditos de carbono. Essa demanda por mais sustentabilidade está muito atrelada às cobranças da sociedade como um todo. Além do mais, as empresas apresentam uma proposta de valor muito mais elevada para os clientes ao se mostrarem mais sustentáveis e mais conscientes de seus impactos no meio ambiente.
No caso do Nubank, por exemplo, nós neutralizamos as emissões de carbono de toda a nossa história no ano passado, a partir da compra de créditos de carbono — e nos comprometemos a continuar compensando daqui para frente. Como já nascemos digitais e todos os nossos produtos são gerenciados diretamente pelo app, o nosso impacto ambiental é bem menor quando comparado com outras indústrias.
Mesmo assim, processos como a produção dos cartões e o envio deles para a casa dos clientes, os servidores que mantém o app no ar, e a energia utilizada pelos Nubankers durante o trabalho, por exemplo, emitem CO2 na atmosfera. Por isso, para sabermos exatamente o que emitimos, realizamos um inventário auditado de GEE e, com os resultados, conseguimos comprar a quantidade certa de créditos de carbono para compensar as nossas emissões.
Para isso, apoiamos projetos socioambientais ao comprar créditos de carbono de iniciativas no México e no Brasil. Na prática, são empresas certificadas que evitam o desmatamento ou usam energia limpa em suas operações que geram esses créditos de carbono — por isso, os compradores investem indiretamente na manutenção das florestas e no desenvolvimento de energias limpas.
Tendência
Claro que o Nubank não é o único a investir em iniciativas sustentáveis. Muito pelo contrário: já vemos várias outras grandes empresas no processo de redução e compensação de suas emissões. E não só as companhias, mas os investidores também estão buscando cada vez mais negócios que atuem nesse setor.
Isso porque a sustentabilidade é uma preocupação e uma responsabilidade de toda a sociedade. Com o tempo, mais e mais empresas terão interesse em reduzir e compensar suas emissões, e os tratados internacionais vão incentivar as pessoas a diminuírem suas pegadas ecológicas. É um mercado promissor, que tem crescido rapidamente.
Mesmo assim, é importante dizer que essas medidas compensatórias são um passo na jornada da sustentabilidade, mas não são o destino final. Isso porque elas não resolvem o problema: são alternativas temporárias, que aliviam os efeitos das mudanças climáticas. E ainda não são a solução.
Futuro
O tema de mercado de carbono está tão em alta que foi um dos tópicos tratados pela COP26, a última conferência do clima da ONU que aconteceu na Escócia no início deste mês.
Um dos maiores obstáculos do mercado é que nem todos os países do mundo têm metas de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa. Alguns não aderiram aos tratados e outros, como o Brasil, são países emergentes e têm licença para manter as emissões de GEE em prol do crescimento. Então, por mais que tenhamos alguns países muito à frente, reduzindo ao máximo as suas emissões, precisamos de um esforço conjunto global para revertermos os efeitos das mudanças climáticas.
O Brasil, por exemplo, apesar de não ter metas de redução de emissões, tem muito potencial para gerar créditos de carbono. Isso porque temos a segunda maior área florestal do mundo, com 59% do nosso território coberto por florestas — ou seja, uma capacidade imensa de geração de créditos de carbono. Segundo um estudo da Way Carbon, o Brasil poderia oferecer cerca de 1 bilhão de toneladas de carbono, ou seja, 1 bilhão de créditos de carbono, até 2030.
Mas, claro, para isso, precisamos garantir que as nossas florestas estejam bem cuidadas e que não exista mais desmatamento ilegal. A meta nacional é, inclusive, erradicar o desmatamento ilegal até 2028.
Solução
Novamente, os créditos de carbono são uma medida temporária, não a solução. Uma das principais críticas ao mercado é que as empresas e países terceirizam o problema, já que elas deveriam reduzir, ou até zerar, as próprias emissões, ao invés de compensar com créditos de carbono.
Por enquanto, não temos todas as tecnologias necessárias para zerar as emissões de GEE de todas as indústrias. Mas já existe muito investimento no desenvolvimento de soluções sustentáveis, como energias renováveis, para que empresas possam adotar e reduzir suas emissões. Daqui para frente, precisamos continuar investindo para que, um dia, a gente consiga zerar as emissões de GEE.
*Cristina Junqueira – Cofundadora do Nubank, empreendedora, conselheira e mãe da Alice e da Bella