Fonte: Jornal do Brasil
O procurador-geral da República, Augusto Aras, interrompeu os mandatos em exercício de 16 conselheiros e coordenadores de ensino da ESMPU (Escola Superior do Ministério Público da União).
Todos os integrantes do colegiado foram destituídos sem prévia comunicação. Os mandatos eram de dois anos prorrogáveis por igual período.
A instituição governamental de ensino é voltada à profissionalização de procuradores e servidores do MPU (Ministério Público da União). A escola também é responsável pelo Curso de Ingresso e Vitaliciamento, pelo qual todo procurador aprovado em concurso precisa passar antes de atuar efetivamente na carreira.
Os 16 novos conselheiros e coordenadores, englobando oito suplentes, já foram nomeados, conforme portaria publicada nesta última terça-feira (4). O conselho administrativo é o órgão máximo e deliberativo tanto em questões acadêmicas quanto administrativas e orçamentárias.
A mudança foi vista por ex-dirigentes da escola e integrantes de braços do MPU como uma interferência autoritária que tem como objetivo doutrinar a instituição. A atitude de Aras deverá ser questionada no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), colegiado que investiga possíveis desvios de conduta na atuação de procuradores.
Entre os escolhidos para compor o conselho da escola está Guilherme Schelb, que conta com a simpatia do presidente Jair Bolsonaro. O procurador é defensor do projeto Escola sem Partido. Denise Abade, antecessora dele, foi nomeada em março de 2019, ou seja, ainda tinha pouco mais de um ano de mandato pela frente.
Durante a posse do novo diretor da escola, o subprocurador Paulo Gonet, na última segunda-feira (2), Aras ressaltou que a instituição precisa agir em consonância com o novo modelo de Ministério Público voltado ao desenvolvimento econômico.
Disse ainda que a escola precisa olhar para as “reais necessidades de geração de empregos, de tributos, de construção de paz e harmonia sociais”.
Procuradores temem que a entidade tenha sua autonomia minada. Chamou a atenção o fato de a posse de Gonet ter ocorrido no Ministério Público Federal e não na própria escola, o que foi lido como gesto simbólico de que a instituição deve ficar subordinada ao procurador-geral.
Nos bastidores, Aras reclamava de um alinhamento à esquerda da instituição.
Em conversa com senadores, relatada pela agência Reuters em setembro do ano passado, antes de ser indicado ao cargo, Aras havia afirmado que existia uma “linha de doutrinação”, um viés na formação de cerca de 600 jovens procuradores na ESMPU -ele já foi professor da escola.
Agora, com a extinção dos mandatos, o procurador-geral da República pode destituir a qualquer tempo membros do conselho administrativo.
Para promover as alterações, Aras precisou fazer uma reforma estatutária de maneira a garantir a exoneração dos conselheiros e coordenadores.
O novo estatuto da ESMPU, publicado em boletim interno da Procuradoria por Aras no dia 21 de janeiro, vai contra pontos centrais das antigas normas, que estabeleciam que qualquer alteração de iniciativa do procurador-geral da República ou do diretor-geral da escola dependeria da aprovação do conselho administrativo para que o ato fosse validado.
Em seu artigo 40, o estatuto da ESMPU, aprovado em agosto de 2019, é direto.
“O presente estatuto poderá ser alterado pelo procurador-geral da República, por iniciativa própria ou mediante proposta encaminhada pelo diretor-geral, após aprovação do conselho administrativo da ESMPU.”
Alguns conselheiros ouvidos reservadamente pela Folha de S.Paulo informaram que foram pegos de surpresa e que não houve debate e aprovação das novas normas pelo conselho administrativo. A preocupação é a de que, sem mandato, o conselho administrativo fique subjugado aos interesses do procurador-geral da República.
A fixação dos mandatos, suprimida na portaria editada no dia 25 de janeiro deste ano, constava no estatuto desde 2013. “O diretor-geral, o diretor-geral-adjunto, os membros do conselho e das coordenações de ensino exercerão mandato de dois anos, facultada uma recondução do procurador-geral da República”, dizia o artigo 3º.
Os conselheiros e coordenadores de ensino e seus respectivos suplentes são indicados pelos procuradores-gerais do Ministério Púbico Federal, do Trabalho, do Distrito Federal e Territórios, e Militar.
Segundo relatos de integrantes do MPU, Aras passou a pressionar os respectivos procuradores-gerais do MPT, do MPDFT e do MPM para que fizessem suas indicações e pediu que fossem nomes “novos” para que Gonet, recém-nomeado diretor da escola, iniciasse sua gestão com uma equipe fresca.
Procurada, a Procuradoria-Geral da República informou que as alterações no estatuto “são oportunas por acontecerem num contexto de troca de liderança”. “Com a posse do novo diretor e diretor-adjunto, optou-se pelo retorno à previsão legal original, na qual não há mandato para os integrantes da cúpula da escola.”
Segundo a assessoria da PGR, a lei que criou a escola, em abril de 1998, determina que a instituição seja diretamente vinculada ao procurador-geral da República e não prevê mandatos para os coordenadores e conselheiros do órgão.
Por isso, como a instituição é vinculada ao procurador-geral, justifica a