Em meio à fumaça dos incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul, um ninho de tuiuiú em cima de uma árvore com os galhos secos, foi avistado por bombeiros que passavam de barco pelo Rio Paraguai. A área fica perto da cidade de Corumbá e os socorristas fazem o monitoramento da situação.
O Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal) também está na região em busca de animais feridos ou debilitados que precisem de atendimento. Em uma das varreduras recentes, a equipe filmou uma onça distante caminhando em uma área queimada. Pelas imagens de vídeo é possível ver que em poucos segundos o felino desaparece em meio à vegetação.
Desde quinta-feira (20), quando chegaram à Corumbá fazendo um “pente fino” pela Estrada Parque, as equipes de biólogos, veterinários e técnicos do grupo já passaram por várias áreas, incluindo Paraguai-Mirim. Encontraram alguns animais mortos e muitas espécies vivas também como veados, jacarés e aves, principalmente nos pontos onde existem recursos hídricos.
Com o uso de tecnologia, incluindo drone, o Gretap avança de carro, barco, triciclos e a pé.
No caminho pantaneiros apoiam as buscas. Onde há áreas alagadas, parte da vegetação bem próxima da água ainda resiste às chamas e serve como corredor para os animais buscarem abrigo.
Uma das varreduras se guiou pela informação de que a presença de urubus indicava a possibilidade de carcaças de animais. Foram registradas muitas pegadas sinalizando a fuga de animais. “Se não fossem essas águas, vazantes, baías, curixos, nada iria conseguir sobreviver a esse fogo”, conta a médica veterinária Franciele Oliveira.
“Realmente o fogo está intenso, mas nas áreas onde foram trabalhados aceiros e coisas do tipo, os animais estão dando conta de fugir. Perto de 2020 não dá nem para se comparar, ao menos por enquanto. O número de animais atingidas de forma direta ainda é bem inferior”, detalha a bióloga e médica veterinária Paula Helena Santa Rita, coordenadora operacional do grupo. Ela faz uma comparação com quatro anos atrás, quando o Pantanal enfrentou uma das piores temporadas de incêndios da história.
Em uma das buscas ativas nestes últimos dias, o resultado veio em vídeo mostrado nas redes sociais dizendo “não encontramos indícios de animais de médio e grande porte, mamíferos no geral, apenas pegadas de um pequeno felino, mas a população presente em grande abundância são as aves”.
As ações do grupo são acompanhadas, registradas e divulgadas na internet por um projeto chamado Mídia Ciência, realizado pela Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) em parceria com a Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul). O conteúdo é compartilhado pelo integrante do projeto Bruno Moser, que acompanha o Gretap em campo.
Entre os animais monitorados pelas equipes de socorristas está uma família de macacos bugios. “Eles ficaram em poucas árvores que ainda sobraram às margens do rio na mata ciliar”, explica a médica veterinária Mariana Queiroz.
Durante vistoria por drone foi avistada uma família de emas se movimentando entre as cinzas em busca de alimentos. “Clinicamente estavam bem, não apresentavam queimaduras e tinham comportamento padrão para a espécie. A equipe avaliou. Não tinha para onde fazer afugentamento, então resolveram não interferir na situação”, diz Paula Santa Rita.
O Gretap é resultado de uma união de esforços envolvendo órgãos governamentais, privados e o terceiro setor. Participam dessa ação em parceria com o Governo do Estado, através da Semadesc e PMA (Polícia Militar Ambiental), a UCDB, Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) e IHP (Instituto Homem Pantaneiro).
“A ação imediata por diversos grupos, tanto o Gretap, quanto bombeiros, brigadistas, pantaneiros, toda essa assistência governamental do Estado sinalizam ao menos uma vontade de não deixar chegar ao que chegou [em 2020]. Independentemente de cor de farda, todos estão com o mesmo propósito”, finaliza a coordenadora do grupo de resgate.
Danielly Escher e Natalia Yahn, Comunicação Governo de MS